_ João Marcos, meu filho, caiu no mundo das drogas. Agressivo, sempre me acusou de nunca ter brincado ou ter sido amável, companheiro e amigo. Foi várias vezes internado. Hoje mora em outro estado e se recusa a falar comigo. Resumindo, desde os seis anos coleciono incontáveis abandonos. Alguns por culpa dos outros, outros por culpa minha – disse com sinceridade, começando a aprender a retirar seus disfarces.
Assim que terminou, um filme passou rapidamente pela sua mente. Recordou as últimas imagens do pai, imagens que estavam bloqueadas. Recordou também que o chamara dia e noite por longas semanas após a sua perda. Cresceu com raiva do pai, crendo que ele estava preso em sua gaiola emocional, alienado das dores que ele, Julio, sentiria no futuro.
Agora estava repetindo a mesma trajetória. O passado calava mais forte do que sua notável carreira acadêmica. Sua cultura não o tornara flexível nem o relaxara. Era um homem engessado, impulsivo, tenso. Nunca se desarmou diante de seus psiquiatras e psicólogos. Não rara vezes os criticava frontalmente por considerar as interpretações deles infantis para alguém do seu nível intelectual. Convencê-lo era uma tarefa dantesca (p.36).
CURY, Augusto. O vendedor de sonhos. São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2008.
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